Pastor Israel Dourado Guerra
Israel Dourado Guerra nasceu em 09 de julho de 1927, na Fazenda Carnaubinhas, localizada na Comarca de Paranaguá, no sul do Piauí. Israel foi o caçula de uma família de sete filhos constituída por Julião Julu Guerra, fazendeiro, e por Mergelina Dourado Guerra, professora. De ambos recebeu a formação religiosa evangélica e o interesse pela educação dos filhos, parentes e de todos com os quais estabelecesse algum contato mais próximo.
Em 1943, com 16 anos de idade, viajou para o Recife (PE), matriculando-se no Tiro de Guerra em 1944. Mesmo obtendo o grau 10,00 como reservista, em 1945, essa passagem no exército foi suficiente para convencê-lo de que não seguiria a carreira militar.
As coisas foram se encaminhando para outra direção e o jovem Israel decidiu fazer o exame de admissão para o Colégio Americano Batista, para cursar o ginasial, que o habilitaria ao curso de Bacharel em Teologia, no Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil.
No período de 1946 a 1949, sua liderança já despontava, participando ativamente das atividades da Mocidade Batista “Noêmia Campelo”, na Igreja Batista de Capunga e como “Secretário Correspondente” da Assembléia de Jovens Batista de Pernambuco. Junto com outros seminaristas daquele período, Israel fundou a União de Estudantes Ministeriais do Colégio Americano Batista, que promovia debates sobre assuntos importantes da conjuntura local e mundial. Para garantir sua subsistência, dava aulas particulares, ensinava pessoas a ler, na Ilha do Leite, bairro pobre do Recife de então, e dedicava-se também à alfabetização de adultos na Congregação do Córrego do Deodato, da Igreja da Capunga, no bairro de Água Fria.
Na conclusão do curso ginasial, em 1949, do qual foi orador, ele finaliza o seu discurso com uma citação de H. C. Lacerda, colocando com clareza o comprometimento com o coletivo, com o mundo, com a humanidade, citação que tem caracterizado a grandeza do exemplo do Pastor Israel Guerra.
Como seminarista do Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, em seguida, ele continuou com as mesmas atividades de educador, que já vinha desenvolvendo. Foi nessa época que encontrou com o jovem Edilazir de Azevedo, jovem igualmente destemida e livre, estudante do Seminário de Educadoras Cristãs.
Edilazir, com quem se casou em 1954, lhe deu 8 filhos: Elzir, Julião, Elzevir, Ediel, Edi, Lemiel, Israel e Samuel.
Depois de examinado em concílio, realizado na Igreja Batista de Capunga, foi consagrado em 20 de outubro de 1952, tomando posse do pastorado da Igreja Batista de Arcoverde, no sertão de Pernambuco, em 22 de outubro do mesmo ano.
Como resultado de uma religiosidade “para fora” dos limites do templo, adotada pelo Pastos Israel Guerra ao longo de sua atuação como pastor, uma impressionante disposição para servir, tanto no campo ministerial, quanto no campo da educação, no campo da política, o que marcou o seu pastorado.
No primeiro deles, sob seu pastorado, foram organizadas, nos municípios do Agreste e do Sertão de Pernambuco, as igrejas de Sertânia, Pedra, Pesqueira, Venturosa onde construiu seu templo e Boa Vista em Arcoverde, além de iniciados diversos pontos de pregação e congregações batistas em: Catimbau, Malhada do Boqueirão, Sítio dos Nunes, Sítio Salgado, Sítio Favas, Lagoa do Bento, Ipojuca, Ibimirim, Alagoinhas, Itaíba, Guamumbi, Barracas, Caraíbas e Inajá.
Em alguns casos, o surgimento e estabelecimento do trabalho batista ocorreu em meio a resistências por parte da Igreja Católica, sendo registrada, por exemplo, em Alagoinhas, uma intensa perseguição, muitas vezes, envolvendo até violência física contra os “bodes”, recém-convertidos ao evangelho. A dificuldade dos obreiros também obrigou o Pastor Israel a atuar muitas vezes, como Pastor Interino de igrejas como a da Boa Vista, a de Sertânia, a de Venturosa e a de Pesqueira em Pernambuco.
Cabe evidenciar que a origem de congregação e da Igreja Batista da Boa Vista, em Arcoverde (PE), surgiu de um pequeno grupo de membros da igreja Batista de Arcoverde, insatisfeitos com a orientação do Pastor Israel em face de um problema disciplinar, que envolvia duas famílias da igreja, julgando-o muito liberal, bem como o fato de dedicar-se também, à direção do colégio Onze de Setembro, exercendo o magistério. Contornando todos os problemas com os membros dissidentes e aceita a orientação do pastor, foi organizada a congregação em 1965 e a igreja em 1966, pelo próprio pastor, assumindo, inclusive, interinamente o seu pastorado por duas vezes. Assim, a Igreja foi organizada e tem produzido muitos frutos para a glória do Senhor.
Outra característica do ministério do Pastor Guerra foi sua ênfase ao associativismo. Participou ativamente da fundação da Associação Batista Agrestina, em 1958, da qual foi eleito o seu primeiro presidente, porque acreditava que o bom andamento do trabalho dos batistas no estado impunha a criação de instâncias associativistas regionais, que, sob a liderança regional, produziria uma denominação forte e articulada. Foi também um dos principais incentivadores da criação do Congresso da Juventude Batista do Agreste, entidade que tem como o objetivo promover a mobilização e a articulação dos jovens batistas do Agreste desde a década de 80, além de criar o primeiro Acompanhamento dos Embaixadores do Reino Estado de Pernambuco.
Sob seu pastorado, no campo da educação ele criou em Arcoverde (PE), o Instituto Batista de Arcoverde, que ficou sob a direção de sua esposa, professora Edilazir de Azevedo Guerra. Depois, em maio de 1959, criou a Sociedade Evangélica da Assistência Social, através da qual iniciou a campanha para a criação do Ginásio (e depois Colégio) Onze de Setembro, onde foi diretor e professor, promovendo sua inauguração formal em 11 de setembro de 1959 e recebendo sua autorização para o funcionamento em 04/01/1960. Cabe destacar que sempre com o lema: “ensino eficiente sob orientação cristã,” ele resolveu o problema de educação dos filhos dos crentes, com liberdade, especialmente para os pobres de Arcoverde e da região, sem recusar, existindo vaga, nenhum aluno por motivo de divergência religiosa, de preconceito de raça ou de classe.
Com uma vida persistente sempre “contra a corrente”, o Pastor Israel Guerra ingressou na política. Em meados da década de 60, ele e sua esposa foram denunciados como comunistas e detidos para interrogatório, pelas forças da Ditadura Militar instaurada em 1964.
A partir daí, iniciou-se uma história de resistência e de luta do Pastor Israel e família contra a Ditadura Militar. Em 1976, ele fundou o diretório do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) em Arcoverde (PE), enfrentando muita resistência na Igreja, que não aceitava a atuação política do pastor, refletindo a mentalidade dominante no meio evangélico daquela época, bem como a de muitos colegas de ministério, no meio evangélico como um todo.
Seguindo uma expressão sua, repetidas inúmeras vezes dizia aos que o cercaram, “Se você não encontra entre os candidatos, nenhum que possa lhe representar dignamente, é hora de se candidatar você mesmo”. O Pastor Israel apresentava-se como candidato à Prefeitura de Arcoverde, duas vezes, fazendo campanhas sempre sem recursos e com uma proposta avançada de crítica radical ao sistema econômico e ao governo militar. Pastor Israel nunca foi eleito, mas lançou sementes de uma resistência respeitosa, muito firme, que, posteriormente, germinaria com a eleição de Israel Dourado Guerra Filho, para vereador em 1984, e a de Julião Julu Guerra Neto, para prefeito em 1988, derrotando, gloriosamente, as forças poderosas do coronelismo local.
O reconhecimento da superioridade da proposta defendida, muitas vezes quase solitariamente, pelo Pastor Israel Guerra nas duas eleições precedentes de Julião e Erivânia, foi acompanhado também pela abertura da mentalidade dos evangélicos no Estado e também no Brasil. Graças a essa influência do Pastor Israel, foram organizados em Pernambuco e também em nível nacional congressos de Ação Social, nos quais a denominação Batista começou a discutir a necessidade de uma atuação mais decisiva no campo da política e da transformação social, superando a posição atrasada do assistencialismo, anteriormente apresentada como a única prática adequada a ser adotada pelas igrejas, em sua relação com as comunidades que as cercam.
Pastor Israel, mesmo sendo um obreiro, contanto com as limitações financeiras e com as de distância, talvez, tenha sido o pastor que, mais vezes, exerceu cargos mediante eleição, na diretoria da Convenção Batista. Ocupou, também, ao longo do ministério, cargos na Juntiva-PE. Foi secretário da Ordem de Pastores Batistas do Brasil durante dois anos, além de servir em várias assembléias como assessor jurídico-parlamentar à presidência da Convenção Batista Brasileira.
No seu pastorado, uma pessoa importante que, juntamente com ele, lutou e se destacou, também, “contra a corrente,” foi, sem dúvida, a sua esposa Edilazir. Quer seja nos campos ministerial, educacional, político, maternal ou social, a profª Elilazir sempre esteve presente, atuando de forma destemida e brilhante, ajudando-o a cumprir a sua missão. Somente um texto mais amplo, poderia analisar com profundidade a importância dessa mulher.
Em 22 de outubro de 2002, o Pastor Israel Guerra encerrou o seu pastorado na Igreja Batista de Arcoverde. O obreiro guerreiro como seu nome, que serviu à Causa do Nosso Senhor Jesus Cristo com grandeza de exemplos de luta “contra a corrente,” foi para o descanso merecido do dever cumprido.
Biografia baseada no livro de Lemuel Guerra, Uma Vida Contra a Corrente-Pastor. Maceió: Edições Catavento, 2002. 128 p, e a publicação do Pastor Israel Guerra, Pastor Israel Dourado Guerra-Destaques dos 50 anos de Ministério. Arcoverde: Edição do autor, 2002. 14 p.
Texto: Ebis.
Trabalho Missionário
Livro de Lemuel Dourado Guerra, Pastor Israel Guerra. Uma Vida Contra a Corrente, que relata com detalhes a trajetória brilhante do pastor. Maceió: Edições Catavento, 2002.128 p. |